Vendi um imóvel no Brasil: como funciona a tributação nos EUA para residentes fiscais americanos?
- Juliana Furlan Zenti

- 9 de set.
- 3 min de leitura

Se você é residente fiscal nos Estados Unidos, precisa declarar todos os seus rendimentos e ganhos de capital no mundo inteiro (worldwide income). Isso significa que, ao vender um imóvel no Brasil, o lucro obtido deve ser incluído na sua declaração americana, mesmo que o imposto já tenha sido pago no Brasil.
Esse tema gera muitas dúvidas, principalmente sobre como o IRS trata o ganho de capital, como funciona a conversão cambial, e quais benefícios podem ser aplicados, como a exclusão da residência principal (main home exclusion).
1. Quando o ganho é de curto prazo e quando é de longo prazo?
Nos EUA, os ganhos de capital são classificados em duas categorias:
Short-term capital gain (curto prazo): quando o imóvel foi vendido após ser mantido por menos de 1 ano.
Esse ganho é tributado como renda ordinária, seguindo as mesmas alíquotas do imposto de renda federal, que podem chegar até 37% (para faixas mais altas).
Long-term capital gain (longo prazo): quando o imóvel foi vendido após ser mantido por mais de 1 ano.
Nesse caso, as alíquotas são reduzidas, variando entre 0%, 15% ou 20%, dependendo da faixa de renda do contribuinte.
Em alguns casos, ainda pode incidir o Net Investment Income Tax (NIIT) de 3,8%, para rendas acima de US$ 200.000 (single) ou US$ 250.000 (casados em conjunto).
👉 Exemplo prático: Se você comprou um apartamento no Brasil em 2018 e o vendeu em 2025, o ganho é longo prazo e será tributado em alíquotas de capital gain (0%, 15% ou 20% + 3,8% se aplicável).
2. Como calcular o ganho de capital em dólares?
O cálculo segue as regras do IRS Publication 514 e Publication 525.
Preço de compra (cost basis): deve ser convertido para dólares usando o câmbio da data da aquisição.
Preço de venda (sales proceeds): convertido para dólares usando o câmbio da data da venda.
Ganho ou perda: diferença entre o valor em dólares da venda e o custo ajustado em dólares.
⚠️ Importante: não se pode simplesmente converter o lucro líquido em reais pelo câmbio atual. É preciso converter cada transação (compra e venda) na data em que ocorreu.
👉 Exemplo numérico simplificado:
Compra em 2015: R$ 500.000 → câmbio 1 USD = 3.00 → custo em USD = US$ 166,667.
Venda em 2025: R$ 1.000.000 → câmbio 1 USD = 5.00 → valor de venda em USD = US$ 200,000.
Ganho tributável nos EUA = US$ 33,333 (mesmo que em reais o lucro tenha sido muito maior).
3. O que acontece se houver prejuízo?
Se o valor da venda convertido para dólares for menor que o custo convertido na época da compra, ocorre um capital loss.
Esse prejuízo pode ser usado para compensar outros ganhos de capital declarados no mesmo ano nos EUA.
Se ainda assim restar prejuízo, é possível deduzir até US$ 3,000 por ano contra outras rendas ordinárias (salário, por exemplo).
O saldo excedente pode ser carregado para anos seguintes (loss carryforward).
👉 Isso significa que até mesmo uma variação cambial desfavorável pode gerar um prejuízo dedutível nos EUA, ainda que no Brasil tenha havido lucro em reais.
4. A exclusão da residência principal (Main Home Exclusion)
Se o imóvel vendido no Brasil era sua residência principal, você pode usar o benefício previsto no IRC §121:
É possível excluir até US$ 250,000 de ganho (US$ 500,000 para casados declarando em conjunto).
Para isso, você precisa ter:
Sido proprietário do imóvel por pelo menos 2 dos últimos 5 anos, e
Tido o imóvel como residência principal pelo mesmo período.
👉 Exemplo: Você comprou um apartamento no Rio em 2010, morou nele até 2020 e vendeu em 2025.
Ainda que tenha morado nele por mais de 2 anos (mesmo não sendo os últimos anos antes da venda), você não cumpre a regra dos 2 de 5 anos recentes.
Portanto, não terá direito à exclusão.
5. Foreign Tax Credit (FTC)
Se você pagou imposto no Brasil sobre o ganho de capital, pode usar esse valor como crédito no IRS, via Form 1116, para evitar dupla tributação.
O crédito é limitado ao imposto americano que seria devido sobre aquele mesmo ganho.
Na prática: se a alíquota efetiva no Brasil foi maior que nos EUA, você pode acabar não pagando nada nos EUA. Mas se a alíquota americana for mais alta, pode haver complemento de imposto a pagar.
6. Conclusão
Para residentes fiscais nos EUA, a venda de um imóvel no Brasil não é apenas uma transação internacional — é um evento tributável complexo que exige atenção a diversos fatores:
Classificação como ganho de curto ou longo prazo.
Conversão cambial correta, sempre pela taxa da data da operação.
Possibilidade de compensar prejuízos em dólares.
Aplicação da exclusão da residência principal em casos específicos.
Uso do Foreign Tax Credit para evitar bitributação.





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